Serei eu somente mais uma laranja mecânica?

Serei eu somente mais uma laranja mecânica?
"Só, na verdade, quem pensa certo, mesmo que, às vezes pense errado, é quem pode ensinar a pensar certo. E uma das condições necessárias pra se pensar certo, é não estarmos demasiado certos de nossas certezas."
-Paulo Freire-

quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

Inquietação

É meu desejo dar um tempo,
Pro tempo que não me dá folga,
É preciso rezar para ter um tempo pra arte,
E de orações eu já saturei a minha parte,
Parei de pedir pra deus que atendesse a minha prece,
Comecei a rezar pra mim mesmo,
Pra que tudo que eu quisesse,
Que eu o fizesse, e que o tempo desse.

E foi nessa que me ferrei,
Quero abraçar o mundo,
Mas o meu tempo é contado,
Dia a dia cronometrado,
Quero que o meu desejo seja completo,
Quero ser em tudo que faço,
Quero estar e ser repleto,
Que em dias frios ou de mormaço,
Eu siga o caminho contando o passo.

Não tenho religião, mas mantenho a minha fé,
De que o tempo ainda vai cessar,
Que aconteça por poucos segundos,
Mas nesse momento de fuga do caos do mundo,
Qualquer espírito se inquietaria,
Pois é assim que é o ser humano,
E então o tempo nos mostraria,
Que no caos também existe poesia.

segunda-feira, 8 de outubro de 2012

O sonho


Ontem à noite eu tive um sonho,
Não foi do tipo normal,
Foi até um pouco estranho.
Cheguei em casa cansado,
Tomei uma cerveja e entrei pra tomar banho.
Envolvido na toalha,
Avistei-a em minha cama,
Cabelos pretos, corpo perfeito,
Nua e sem nenhuma falha,
Recebeu-me com um sorriso,
Chamou-me pelo nome,
Fui cativado pela graciosidade,
Nadei com a corrente,
Não liguei pra vaidade e mergulhei em luxúria,
Senti seu corpo quente,
Tirou a minha toalha,
Como quem desembrulha um presente,
Agarrei seus cabelos e mordi sua orelha,
Com um movimento, atirei-a na cama,
As mãos vagueando por suas pernas,
Um calor mais forte do que qualquer chama,
Alcanço seu pescoço e ela geme,
Clama, reclama, arranha minhas costas,
O sangue escorre, suja o edredom suado,
O movimento acelera e fica mais intenso,
Suas pernas me prendem em um nó bem atado,
Respirações ofegantes preenchem o vazio sonoro,
Alternando com intensos suspiros e lamentos,
Com o passar do tempo, tudo fica mais violento,
Clamores, arranhões, mordidas, são para o nosso lazer,
E o orgasmo chega, atingindo o limite do prazer...
Acordei sozinho e não sei se foi algo sonhado,
Mas guardo comigo cicatrizes e um edredom manchado.

sábado, 8 de setembro de 2012

Vício

Quero sim outra cerveja!
A gente luta, trabalha, rasteja,
Mereço esse gole de satisfação,
Deixe me ter a aparência de alguém
Que com a vida não se preocupa não,
Cheguei à conclusão que esse mundo,
Não passa de um imenso hospício,
Onde tratamos as nossas dores,
Disfarçando-as através de um vício.

Mereço sim mais um cigarro!
Em um lugar onde pensar é considerado castigo,
Autoflagelo por algo estar errado,
Eu mereço esse momento de paz meu amigo,
Porque quem pensa de mais se atormenta,
E são os vícios que me mantém são,
Pois é um momento em que tudo se ausenta,
Porque pensar, não traz felicidade não...

quarta-feira, 22 de agosto de 2012

Santuário


Por que ainda dói tanto?
Essa constante briga com meu ego,
Onde em cada golpe eu renego,
E não entendo o que aconteceu.

Não sou mais o mesmo,
Guardo em mim mil faces de uma só alma,
Que transita entre a tempestade e a calma,
E esse inferno é só meu.

Nele eu sou o administrador,
Rejo internamente os meus próprios pecados,
Passando por certos julgamentos delicados,
De uma mente de plebeu.

Simples e complexa,
Falando a verdade quando mente,
E mentindo involuntariamente,
Tentando ludibriar o meu próprio “eu”.

Que também pode ser chamado de ego,
O qual eu tenho confrontado,
E golpes foram disparados,
Pra desfrutar disso que é só meu.

terça-feira, 26 de junho de 2012

Lembrança

Li um título de Nelson Rodrigues,
“Elas gostam de apanhar”,
Senti um desconforto,
E foi olhando torto que parei pra pensar.

Foi pervertida a minha mente,
Quando naquele título,
Reconheci a gente,
No nosso amor ardente,
Esquentando por capítulo.

E mesmo que eu não li livro,
Lembrei-me que em cada unha que arranhava,
A libido só crescia,
E isso me excitava,
Só paixão em demasia,
Roupas jogadas por toda parte,
Era belo, quase Arte,
Era intenso e eu vivia.

Nossos corpos entrelaçados,
Exaltando energia,
E eu sentia,
O seu suor sobre o meu peito,
E sobre o leito que se encharcava,
De calor, do nosso atrito,
Nossa vida então gozava,
De um prazer quase infinito.

E de repente nasce o sol,
Abro os olhos, e só vejo o lençol,
Aquele que ainda tem seu cheiro,
Pois aí bate o desespero,
E o passado é uma lembrança...

domingo, 13 de maio de 2012

Conselho

Deixe disso mulher!
Ceda para o amor uma colher de chá,
Ou um chá de colher,
Não me importo com a expressão,
Pegue o seu casaco e parta já!
Corra atrás daquilo que você quer!
Não se amedronte diante de incertezas,
Diga sim para esse sentimento!
O futuro ao todo é um mistério,
Então pra ele não há lamento.

Não deixe também que o passado pereça,
Pois cada dor sofrida foi um aprendizado,
E que se lembre das alegrias,
Pois a vida é curta para se guardar somente mágoas,
Lembre-se que outrora tu sorrias,
Com toda a sinceridade de seu coração.

Não sofras com a insegurança,
Ame com toda a sua vontade,
E com a inocência de uma criança,
Que não tem medo de cair de um balanço,
Como ela, se entregue ao momento.
Não pense de mais, isso te envelhece,
Se tens medo de cair do balanço,
Perderá o prazer da brisa tocando sua face,
Então não se interrompa e muito menos se puna!
Essa teimosia só demostra o medo de se entregar,
Se entregue e eu te garanto que coisa alguma, 
Será melhor do que o momento em que você balançar,

Pois como eu te disse, a vida é breve,
Então não se recuse a vivê-la,
Sinta o sol, a chuva e a neve,
Não segure pra ti todo esse amor,
Que você guarda dentro de você,
Não tenha medo de amar alguém,
Pois quando menos você perceber,
Amar é o melhor sentimento que tem,
Não te garanto que isso será pra sempre,
Eu te disse que o futuro é incerto,
Mas se entregue e veja que alguns momentos,
Serão tão bons que parecerão eternos...

quarta-feira, 2 de maio de 2012

Ponto Final

Não gosto do ponto final,
Gosto da vírgula, dois pontos, travessão,
Mas o ponto final eu não engulo,
Não sei o porquê de por fim em um refrão,
Das suas músicas preferidas,
Diferente da vírgula marca a mudança de verso,
Ou do ponto e vírgula que mantêm o drama da pausa,
Aquela expectativa que só ele causa.

Não gosto do final determinado,
Quer coisa melhor que uma interrogação?
Talvez melhor que exigir uma resposta,
É com certeza usar uma exclamação!
Que pode trazer a melhor proposta,
Uma demonstração de surpresa,
Ou uma ordem imposta.

Só gosto desse tal de ponto final,
Quando ele vem de uma forma sutil,
Quando ele só apresenta um recomeço,
Pois na pontuação metafórica da vida,
O ponto final é a única certeza comum entre os homens,
Que não se importa com suas crenças,
Durante o meio, são só incertezas e finais não completos,
Que a gente leva pelas reticências...

sexta-feira, 23 de março de 2012

Momento

E então eu disse: chegou o momento,
Pra essa tal de autoestima?
Tá na hora do tal crescimento,
Tenho pra mim a receita,
Teorias, métodos e estratégias,
Mas meu corpo não as aceita,

Mas é chegado o momento,
Mas quem disse que consigo?
A carne é fraca, não aguento,
Preocupo-me de mais,
Abraço a causa do conflito em minha mente,
E não me sinto capaz...

Então chega o momento,
Faço-me de tonto, coloco minha máscara,
Chego ao baile e logo me adentro,
Pois o baile é o cotidiano,
Onde cada um esconde o que realmente sente,
E passam-se os dias, os meses, os anos...

Então sinta o momento!
Encontre em si aquela melodia,
Que se harmoniza com seu choro, seu lamento,
Que com máscara ou sem você se erga,
Pois se ficar esperando pra sempre,
O momento é algo que nunca chega...

segunda-feira, 5 de março de 2012

Alexandre

Hoje eu fui de extremo a extremo,
Da tristeza à alegria,
Do êxtase à agonia,
É impressionante o ser humano,
Que se impressiona pela dor do outro,
Que pelo irmão feliz fica,
E pela sua felicidade ele suplica,
Mostrar que na epopeia de um só coração,
Outros com ele estão...

Tudo acontece rápido,
O branco de repente enegrece,
O negro atinge um tom pálido,
E de repente a gente esquece,
Perdemo-nos nessa sinestesia de sentimentos,
Cores, dores, lamentos,
Onde a aura da alma atinge o próximo,
Que nem sempre tão próximo está,
Mas não deixa de mudar,
Um pouco do todo que você é...

Isso talvez não soe heroico,
Faz parte do cotidiano até da escória,
Mas como dizia a menina Alice,
Que descobriu um dia em sua própria história,
“Como essas mudanças desorientam,
Nunca sei o que vou ser de um minuto para o outro”
E essas dúvidas são as que fomentam,
O engrandecimento do ser,
Que é o herói de alguém,
Que provavelmente não é perfeito,
Mas em seu coração,
Por você, muito amor mantém...

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Modernidade

O que acontece hoje em dia é que as pessoas,
Não tem tempo pras pessoas,
Pois há tempo para o tempo,
Hoje o tempo é dinheiro,
Com dinheiro é que se compra,
Se consume, se consome,
Transformando a poética da vida,
Que se torna dividida entre ser feliz,
Ou ter a felicidade,
E o indivíduo é quem se torna cada vez mais vazio...

quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Destino

Tá tudo errado,
O rio da vida tá seguindo na direção oposta,
Meu barco está contra a corrente, desancorado,
Cansei de remar, o vento não ajuda,
Cansei de me preocupar com a direção,
Não é como se eu tivesse colocando a culpa,
Na minha bússola da desorientação...

Eu não quero mais ficar checando a rota,
Temer o destino inesperado,
Não faz dele um futuro pior,
Pode ser que por lá eu encontre enterrado,
Em alguma ilha, um tesouro melhor.

Cansei de me arrepender de minha escolha,
Se for pra me arrepender,
Que não seja por ter remado,
Prefiro jogar a culpa no destino,
Pois nem sempre navego sorrindo.
Nos caminhos que ele tem me levado,

Preciso parar de pensar,
Aprender a seguir mais o vento,
Não me preocupar tanto em aportar,
Ficar a mercê do rio do destino,
Sem temer o lugar que ele termina,
Mas até que a viagem chegue ao fim,
Que eu não me acomode em nenhum lugar,
Deixo em cada ilha que passo um pouco de mim,
E depois continuo a navegar...